- O uso da cannabis medicinal em pets tem ganhado espaço, com evidências clínicas mostrando benefícios em cães, gatos e cavalos. No Brasil, a regulamentação é recente e o interesse cresce entre tutores e veterinários.
- Animais também possuem sistema endocanabinoide, regulador de funções vitais. Porém, há diferenças importantes no uso: diluentes seguros (como azeite de oliva) e preferência por óleos full spectrum.
- O tratamento auxilia em dor crônica, convulsões, disfunção cognitiva, efeitos da quimioterapia, doenças inflamatórias intestinais, dermatites e problemas comportamentais. Não deve ser usado em animais saudáveis preventivamente.
- Os obstáculos incluem preconceito e abandono precoce do tratamento pelos tutores. A regulamentação brasileira, atualizada em 2024, permite aos veterinários prescreverem cannabis, alinhando o país a práticas já consolidadas no exterior.
Como a cannabis interage com o organismo dos animais
Assim como os seres humanos, os animais também possuem um sistema endocanabinoide — uma complexa rede de receptores distribuídos por todo o corpo. Esse sistema atua na regulação de funções vitais, como dor, inflamação, apetite, sono e resposta imunológica.
Os compostos da cannabis interagem diretamente com esses receptores, auxiliando na restauração do equilíbrio interno do organismo, processo conhecido como homeostase. Dessa forma, abrem-se possibilidades promissoras para aplicações terapêuticas em diversas condições que afetam a saúde animal.
Por que o uso em pets exige cuidados diferentes
Embora a base da terapia com cannabis seja semelhante, há diferenças importantes quando se trata do uso em humanos e em pets.
Um dos principais pontos está no veículo de diluição dos óleos. Enquanto em formulações humanas é comum o uso de óleos como o de abacate, para cães e gatos esse componente é tóxico. Por isso, na medicina veterinária o azeite de oliva é o diluente mais utilizado, garantindo segurança e eficácia.
Outra diferença relevante está na forma de apresentação dos produtos. Enquanto muitos pacientes humanos recorrem a óleos importados de CBD isolado, em animais ainda predomina o uso de óleos full spectrum, produzidos por associações brasileiras. Essa escolha impacta diretamente os resultados clínicos, já que os fitocanabinoides atuam em conjunto, ampliando os efeitos no sistema endocanabinoide.
Esse sistema, presente tanto em humanos quanto em animais, regula diversas funções essenciais do organismo, como o sistema nervoso, digestivo, circulatório, respiratório e até o tegumentar. Assim, compreender essas particularidades é fundamental para que o tratamento veterinário seja seguro e efetivo.
Condições que mais respondem ao tratamento e principais aplicações
A cannabis medicinal tem se mostrado útil em diferentes situações que afetam a saúde animal, com destaque para:
- Controle da dor crônica – eficaz em quadros de osteoartrite, displasia coxofemoral e dores neuropáticas.
- Disfunção cognitiva – ajuda em alterações semelhantes ao “Alzheimer dos pets”, promovendo mais bem-estar.
- Convulsões – especialmente na epilepsia refratária, quando os medicamentos tradicionais não apresentam bons resultados.
- Animais em tratamento oncológico – reduz efeitos colaterais da quimioterapia e melhora a qualidade de vida.
- Doenças inflamatórias intestinais – contribui para reduzir inflamações e desconfortos digestivos.
- Problemas de pele – alívio em casos de dermatites alérgicas e coceiras persistentes.
- Alterações comportamentais – auxilia em situações de ansiedade, estresse por separação, medo de fogos de artifício ou mudanças de ambiente.
É importante frisar que a cannabis não deve ser utilizada em animais saudáveis como forma de prevenção. O sistema endocanabinoide já funciona de forma equilibrada em organismos sadios, e suplementá-lo sem necessidade não traz benefícios.
Há também restrições específicas: pacientes com cardiomiopatias, problemas endócrinos descompensados ou que utilizam determinados medicamentos de forma contínua exigem avaliação criteriosa antes de iniciar o tratamento.
Principais Obstáculos no Tratamento com Cannabis em Animais
Apesar da crescente aceitação, o uso da cannabis na medicina veterinária ainda enfrenta entraves significativos. O primeiro deles é o preconceito. Muitos tutores temem que seus animais “fiquem chapados”, confundindo os efeitos do THC, substância com ação psicoativa, com o CBD, que não altera a consciência e é justamente o composto mais utilizado em protocolos veterinários.
Outro desafio importante é o acompanhamento terapêutico. Não é incomum que, ao perceberem melhora no quadro do animal, os tutores suspendam o tratamento ou deixem de comparecer às consultas de acompanhamento.
No entanto, por se tratar de uma terapia contínua, a interrupção pode resultar na recaída dos sintomas ou até na progressão da doença, comprometendo a eficácia do tratamento a longo prazo.
Regulamentação no Brasil
Até pouco tempo, a medicina veterinária no Brasil não contava com uma regulamentação específica para o uso da cannabis. Esse vazio normativo obrigava muitos tutores a buscar alternativas como ações judiciais ou a importação de produtos, sempre mediante prescrição, para garantir o acesso ao canabidiol (CBD).
O cenário mudou em 30 de outubro de 2024, quando a Anvisa atualizou a Portaria 344/1998, permitindo que médicos-veterinários habilitados prescrevam produtos à base de cannabis para fins terapêuticos em animais.
Essa conquista trouxe segurança jurídica, ampliou as opções de tratamento e alinhou o Brasil a países como Estados Unidos e Canadá, onde essa prática já está consolidada.
Considerações finais
A cannabis medicinal já se mostra uma aliada importante na medicina veterinária, trazendo alternativas inovadoras para o manejo de doenças que comprometem a qualidade de vida dos animais. Os avanços científicos e a recente regulamentação no Brasil abriram caminho para que cães, gatos e até cavalos possam se beneficiar de terapias mais seguras e eficazes.
Entretanto, a consolidação desse recurso depende de três fatores essenciais: ampliação das pesquisas clínicas, formação adequada dos profissionais e consciência dos tutores sobre a importância do acompanhamento veterinário. Somente assim será possível garantir que o tratamento seja aplicado de forma responsável, maximizando benefícios e reduzindo riscos.
Diante desse cenário, a cannabis medicinal deixa de ser vista como tabu e passa a ocupar um espaço cada vez mais relevante no cuidado integral à saúde animal, apontando para um futuro promissor em que ciência, regulamentação e bem-estar caminham juntos.

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