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01/06/2025
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7 min de leitura
CBDCBD

Esclerose Múltipla e Espasticidade: O papel dos Canabinoides no controle dos sintomas

A esclerose múltipla (EM) é uma doença neurológica crônica e autoimune que compromete a comunicação entre o cérebro e o resto do corpo. Entre os sintomas mais comuns está a espasticidade, caracterizada pela rigidez muscular e contrações involuntárias, o que afeta diretamente a mobilidade e a qualidade de vida dos pacientes.

Estima-se que 2,8 milhões de pessoas no mundo vivam com EM, com cerca de 107 mil novos diagnósticos por ano. A condição costuma surgir entre os 20 e 40 anos, sendo mais comum em mulheres, embora possa afetar qualquer pessoa entre os 15 e 60 anos. Casos na infância são raros.

Diante dos desafios do tratamento, especialmente no controle dos sintomas motores, os canabinoides vêm sendo estudados como uma alternativa terapêutica promissora.

 Três médicos examinando exames de ressonância magnética do cérebro em um tablet, discutindo as áreas afetadas.
  • A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune crônica que danifica a bainha de mielina e compromete a comunicação nervosa, causando sintomas variados como a espasticidade.
  • A espasticidade gera rigidez muscular, dores e limitações motoras, afetando diretamente a autonomia e a qualidade de vida dos pacientes.
  • O tratamento tradicional envolve fisioterapia, medicamentos, injeções e cirurgia, mas muitos pacientes não conseguem controlar totalmente a espasticidade.
  • Estudos com canabinoides, especialmente o CBD, apontam efeitos promissores no alívio dos sintomas, mas faltam ensaios clínicos maiores e padronizados para confirmar segurança e eficácia.

Entendendo a doença

A esclerose múltipla (EM) é uma doença neurológica autoimune e crônica, na qual o sistema imunológico — que normalmente protege o corpo contra ameaças — passa a atacar por engano estruturas saudáveis do sistema nervoso central, como o cérebro e a medula espinhal.

O principal alvo desse ataque é a bainha de mielina, uma camada protetora que envolve os neurônios e permite a condução rápida e eficiente dos impulsos nervosos.

Quando essa estrutura é danificada, ocorre um processo chamado desmielinização, que compromete a comunicação entre o cérebro e o restante do corpo. Em alguns casos, os axônios (fibras nervosas responsáveis por transmitir os sinais elétricos) também são afetados.

Esse processo inflamatório pode resultar na formação de cicatrizes (ou escleroses) no tecido nervoso, interferindo na função neurológica. Com a progressão da doença, pode haver perda de funções motoras, sensoriais, visuais e cognitivas. Em quadros mais avançados, pode ocorrer atrofia cerebral, agravando ainda mais os sintomas.

A esclerose múltipla é imprevisível e afeta cada pessoa de forma diferente, com períodos de surtos e remissões ou progressão contínua, dependendo do tipo da doença.

O que é espasticidade na esclerose múltipla?

A espasticidade é um distúrbio motor que provoca rigidez muscular, contrações involuntárias e, muitas vezes, dor. Ela pode surgir em diferentes condições neurológicas, como paralisia cerebral, AVC, lesão medular e doenças degenerativas — como a esclerose múltipla (EM).

No caso da esclerose múltipla, a espasticidade é causada por danos nos nervos do cérebro ou da medula espinhal, que interferem na comunicação entre o cérebro e os músculos. Com isso, o corpo passa a enviar sinais confusos ou exagerados, fazendo com que os músculos se contraiam sem necessidade ou fiquem rígidos por muito tempo.

Essa rigidez pode dificultar movimentos simples, como caminhar, se sentar, trocar de roupa ou até descansar. Em alguns pacientes, a espasticidade aparece apenas em momentos específicos — por exemplo, ao se levantar ou mudar de posição. Já em outros casos, ela está presente ao longo de todo o dia, afetando diretamente a rotina e a qualidade de vida.

É importante lembrar que a intensidade da espasticidade varia muito de pessoa para pessoa. Mas, independentemente do grau, o acompanhamento médico adequado é essencial para melhorar o bem-estar e a funcionalidade de quem convive com essa condição.

Como a espasticidade impacta a vida do paciente?

A espasticidade pode comprometer significativamente a qualidade de vida, afetando desde funções básicas até a autonomia do paciente. Entre os principais impactos, destacam-se:

  • Dores musculares constantes e sensação de rigidez que dificultam o relaxamento do corpo;
  • Limitações para caminhar, sentar-se ou manter o equilíbrio, aumentando o risco de quedas;
  • Dificuldade para realizar tarefas simples do dia a dia, como vestir-se, tomar banho ou deitar-se confortavelmente para dormir;
  • Fadiga intensa, frustração e até isolamento social, principalmente quando a mobilidade é severamente reduzida e o paciente passa a depender de terceiros para atividades rotineiras.

Nos casos mais severos, a espasticidade não afeta apenas o físico, mas também o bem-estar emocional e a autoestima, comprometendo a autonomia e a participação ativa na vida social e familiar.

Qual é o tratamento para espasticidade?

O tratamento da espasticidade tem como principal objetivo melhorar a qualidade de vida e a mobilidade do paciente. Ele costuma envolver uma combinação de abordagens, ajustadas conforme a causa e a gravidade do quadro. De forma geral, o cuidado segue três frentes principais:

1. Tratar a causa de base

Sempre que possível, o primeiro passo é agir sobre a origem da espasticidade. Isso inclui o controle de tumores, inflamações, doenças degenerativas — como a esclerose múltipla — e outras condições que afetam o sistema nervoso central.

2. Evitar fatores que agravam o quadro

Certas situações podem intensificar os sintomas ou dificultar o tratamento. Por isso, é essencial prevenir e tratar condições como:

  • dores crônicas
  • infecções urinárias
  • prisão de ventre
  • feridas por pressão
  • rigidez articular
  • unhas encravadas
  • estresse emocional
  • distúrbios do sono

3. Aliviar os sintomas diretamente

Para reduzir os espasmos e a rigidez muscular, diversas estratégias podem ser adotadas, como:

  • fisioterapia e alongamentos regulares
  • medicamentos orais ou intratecais (injetados na medula)
  • injeções de toxina botulínica (Botox) ou de fenol, aplicadas nos músculos afetados
  • procedimentos cirúrgicos, como neurólise ou neuromodulação, indicados em casos mais graves

Apesar de todos esses recursos, muitos pacientes ainda não alcançam um controle completo dos sintomas. Por isso, novas alternativas terapêuticas vêm sendo exploradas — entre elas, o canabidiol (CBD), um dos principais compostos da cannabis medicinal. Estudos mostram que o CBD pode ser eficaz no controle da espasticidade, especialmente em casos que não respondem bem aos tratamentos convencionais.

O que dizem os estudos sobre CBD e espasticidade?

Diversos estudos científicos têm investigado o potencial terapêutico dos canabinoides — especialmente o CBD (canabidiol) e o THC (tetraidrocanabinol) — no controle da espasticidade, um sintoma comum e debilitante de doenças neurológicas como a esclerose múltipla.

Um dos principais artigos sobre o tema, publicado na revista Neuropsychiatric Disease and Treatment em 2008, intitulado “Cannabinoids in the management of spasticity associated with multiple sclerosis”, analisa como os canabinoides atuam no organismo e revisa os resultados de estudos anteriores com animais e humanos.

O que os testes revelaram?

1. Estudos pré-clínicos (em animais):

Modelos experimentais em roedores com sintomas semelhantes aos da esclerose múltipla (como a encefalomielite autoimune experimental) mostraram que os canabinoides conseguem reduzir significativamente espasmos musculares e tremores. Esses resultados indicam efeitos positivos logo nas primeiras fases de pesquisa.

2. Mecanismo de ação:

Os canabinoides interagem com os receptores CB1 e CB2, presentes no sistema endocanabinoide, que atua no cérebro e no sistema nervoso. Essa interação ajuda a regular a dor, controlar inflamações e melhorar o funcionamento neuromuscular.

3. Estudos clínicos (em humanos):

Ensaios clínicos com pacientes diagnosticados com esclerose múltipla mostraram que, para algumas pessoas, os canabinoides foram eficazes no alívio da espasticidade. No entanto, os resultados variaram: alguns pacientes relataram melhora significativa, enquanto outros tiveram pouco ou nenhum benefício, sugerindo que a resposta ao tratamento é individual.

Outro artigo relevante, mais recente, foi publicado em 2023 na Revista da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (BrJP), com o título “O uso da medicina canábica para tratamento da dor associada à espasticidade”.

Trata-se de uma revisão da literatura científica nacional e internacional sobre o uso de canabinoides no tratamento da espasticidade e da dor relacionada, especialmente em condições como a esclerose múltipla.

Os autores analisaram estudos prévios quanto aos efeitos clínicos, formas de uso, doses aplicadas e possíveis efeitos adversos.

Conclusão dos estudos

  • Os canabinoides, em especial o CBD, mostram potencial promissor no controle da espasticidade e da dor em doenças neurológicas.
  • Os melhores resultados são observados em pacientes que não respondem bem aos tratamentos tradicionais.
  • Apesar disso, ambos os estudos reforçam que ainda são necessários ensaios clínicos maiores, com mais participantes e metodologia padronizada, para garantir segurança e eficácia no uso da cannabis medicinal nesses casos.

Considerações finais

A esclerose múltipla representa um grande desafio terapêutico, não apenas pela sua progressão imprevisível, mas também pelos sintomas motores incapacitantes que afetam profundamente a vida dos pacientes — sendo a espasticidade um dos mais recorrentes e debilitantes. Apesar das diversas opções de tratamento disponíveis, muitas vezes os métodos tradicionais não são suficientes para oferecer alívio pleno dos sintomas.

Nesse cenário, os canabinoides, em especial o canabidiol (CBD), surgem como uma alternativa terapêutica promissora. Estudos pré-clínicos e clínicos têm demonstrado seu potencial em modular o sistema endocanabinoide, promovendo efeitos anti-inflamatórios, neuromoduladores e analgésicos que podem contribuir para a redução da rigidez muscular e da dor associada à espasticidade.

As evidências atuais indicam que os melhores resultados com o uso de canabinoides ocorrem principalmente em pacientes que não respondem adequadamente aos tratamentos convencionais. Ainda assim, a variabilidade nas respostas clínicas e a ausência de protocolos padronizados reforçam a necessidade de ensaios clínicos mais robustos, com maior número de participantes e metodologias bem definidas, para consolidar a eficácia, segurança e aplicabilidade desses compostos no contexto terapêutico da esclerose múltipla.

Dessa forma, embora o uso da cannabis medicinal ainda esteja em fase de construção científica e regulatória, seu potencial no controle da espasticidade merece atenção, pesquisa contínua e debate responsável, sempre pautado na ética

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