Voltar para o Blog
16/09/2025
|
min de leitura
BrasilBrasil

Cannabis no Brasil: a importância de um marco regulatório

O estudo da cannabis medicinal avança no Brasil, mas ainda enfrenta barreiras. A falta de regras claras gera insegurança jurídica, atrasando desde o cultivo científico até a circulação de amostras entre instituições, o que impacta pesquisadores, investidores e a própria área da saúde.

Com o objetivo de mudar esse cenário, um Grupo de Trabalho (GT) formado por especialistas de 31 instituições brasileiras, entre elas a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), elaborou uma Nota Técnica que propõe a criação de um marco regulatório para a cannabis científica.

Embora ainda não tenha força de lei, o documento já foi encaminhado ao Ministério da Saúde e à Anvisa, abrindo caminho para futuras mudanças e maior segurança jurídica no campo das pesquisas.

Vamos entender melhor quais são os principais pontos dessa proposta e por que ela pode transformar a ciência no país.

Médica com jaleco e estetoscópio em plantação de cannabis medicinal.
  • A falta de regras claras gera insegurança jurídica, dificultando pesquisas, investimentos e desenvolvimento da cannabis científica no Brasil.
  • Especialistas de 31 instituições elaboraram uma Nota Técnica sugerindo um marco regulatório, já enviada ao Ministério da Saúde e à Anvisa.
  • Com regras sólidas, o Brasil pode reduzir dependência tecnológica, fomentar pesquisas nacionais, apoiar inclusão social e se tornar referência internacional.

A necessidade de regras claras para avançar

Um marco regulatório é o conjunto de leis e normas que garante segurança jurídica e define como determinada atividade deve ser conduzida.

No caso da cannabis, ele é essencial para organizar as pesquisas científicas, padronizar insumos, autorizar cultivos controlados e estabelecer protocolos claros para o desenvolvimento de medicamentos, produtos veterinários e aplicações industriais.

Atualmente, a ausência de regras específicas impõe obstáculos que atrasam o avanço da ciência no Brasil, como:

  • Burocracia excessiva, com processos de autorização lentos e muitas vezes subjetivos;
  • Dependência de insumos importados, que limita o acesso a materiais padronizados;
  • Restrições ao cultivo científico e limites arbitrários de THC, inviabilizando comparações entre estudos;
  • Barreiras no transporte de amostras entre instituições, reduzindo a cooperação nacional;
  • Insegurança jurídica no uso de coprodutos, como fibras têxteis e bioinsumos agrícolas;
  • Ausência de protocolos específicos para pesquisas veterinárias, que atrasam soluções voltadas a animais.

Segundo especialistas, superar esses obstáculos através de um marco regulatório sólido pode transformar o Brasil de um país dependente de tecnologias estrangeiras em uma referência internacional em pesquisas com cannabis.

Os quatro pilares do marco regulatório

Com base nas contribuições levantadas, o marco regulatório deve contemplar quatro eixos principais:

1. Simplificação da burocracia

  • Reduzir a morosidade e a subjetividade nos processos de autorização;
  • Unificar normas atualmente dispersas entre diferentes órgãos (Anvisa, MAPA, Polícia Federal etc.);
  • Estabelecer protocolos transparentes e padronizados para solicitação e acompanhamento das pesquisas.

2. Garantia de acesso a insumos

  • Autorizar o cultivo controlado de cannabis para fins científicos, em ambientes indoor e outdoor;
  • Criar regras para a produção nacional de insumos padronizados, diminuindo a dependência de importações;
  • Facilitar a circulação de amostras entre universidades e centros de pesquisa, promovendo maior integração.

3. Definição de parâmetros científicos claros

  • Rever limites arbitrários de THC que hoje inviabilizam comparações entre estudos;
  • Estabelecer protocolos específicos para pesquisas veterinárias, ainda pouco regulamentadas;
  • Regulamentar o uso e estudo de coprodutos, como fibras têxteis, bioinsumos agrícolas e aplicações na construção civil.

4. Fomento à inovação e à cadeia produtiva

  • Estimular parcerias entre universidades, indústria, agricultores e associações de pacientes;
  • Criar condições para que o Brasil deixe de ser apenas importador e se torne exportador de conhecimento, tecnologia e produtos relacionados à cannabis;
  • Apoiar iniciativas de agricultura familiar, especialmente no cultivo de cânhamo, fortalecendo a inclusão social e a geração de renda.

Essas mudanças têm o potencial de transformar o Brasil em um ambiente mais favorável à inovação, ao mesmo tempo em que impulsionam a ciência nacional, ampliam o acesso a terapias seguras e eficazes, abrem espaço para novos mercados — como o de produtos veterinários e industriais — e reduzem a dependência de tecnologias estrangeiras.

O futuro da pesquisa depende de regulação

O levantamento do Grupo de Trabalho (GT) identificou mais de 60 instituições científicas e tecnológicas já engajadas em pesquisas com a planta. As regiões Nordeste e Sudeste concentram estudos voltados ao uso medicinal e ao desenvolvimento farmacêutico, enquanto o Sul e o Centro-Oeste se destacam pela ênfase em aspectos agronômicos e biotecnológicos. Essa diversidade revela uma complementaridade estratégica e reforça o potencial para a criação de uma rede nacional de pesquisa colaborativa.

Entretanto, enquanto países como EUA, China e Canadá já registraram mais de mil patentes nos últimos cinco anos, o Brasil ainda discute normas básicas. A Nota Técnica do GT alerta que a ausência de regulação não apenas desestimula pesquisadores, como também amplia a dependência tecnológica em relação ao exterior.

Em síntese, o Brasil já possui capacidade científica e diversidade regional para se destacar no cenário internacional, mas sem um marco regulatório sólido corre o risco de perder protagonismo e permanecer dependente de tecnologias estrangeiras, desperdiçando um potencial estratégico para a ciência e a inovação.

Considerações finais

O marco regulatório proposto vai além da simples autorização de pesquisas: ele busca criar um verdadeiro ecossistema de inovação, capaz de conectar universidades, associações, agricultores e empresas, posicionando o Brasil como protagonista no cenário internacional da cannabis científica.

Mais do que uma medida jurídica, trata-se de uma oportunidade estratégica para o país, com potencial de fortalecer a soberania científica, impulsionar a inovação nacional e consolidar o Brasil como referência mundial em pesquisas com cannabis.

Imagem CTA1
Imagem CTA2
Imagem CTA3

Agende sua consulta

Agende sua primeira consulta na Click por apenas R$50 e converse com nossos médicos especialistas hoje mesmo.

Ver mais artigos

Médica segurando um frasco de medicamento enquanto escreve uma prescrição em consulta clínica
Brasil
Cannabis Medicinal

Importação de Cannabis no Brasil cresce 12,9% em 2025 e caminha para novo recorde

03/12/2025

|

2 min de leitura

Plantação de cannabis em vasos organizados em fileiras.
Brasil

Cannabis como solução para captura de carbono e inovação sustentável

01/10/2025

|

min de leitura

Adolescente segura frasco com conta-gotas de óleo de cannabis medicinal.
Brasil

Cannabis medicinal em adolescentes: O que diz a lei Brasileira

06/09/2025

|

3 min de leitura

Pesquisadora analisando planta de cannabis em laboratório para estudos medicinais
Brasil

A história do primeiro medicamento à base de cannabis aprovado no Brasil

22/08/2025

|

min de leitura

Médica com máscara e luvas examinando planta de cannabis medicinal em estufa
Brasil

Por que o Brasil está falando cada vez mais sobre cannabis medicinal

16/08/2025

|

min de leitura