- A falta de regras claras gera insegurança jurídica, dificultando pesquisas, investimentos e desenvolvimento da cannabis científica no Brasil.
- Especialistas de 31 instituições elaboraram uma Nota Técnica sugerindo um marco regulatório, já enviada ao Ministério da Saúde e à Anvisa.
- Com regras sólidas, o Brasil pode reduzir dependência tecnológica, fomentar pesquisas nacionais, apoiar inclusão social e se tornar referência internacional.
A necessidade de regras claras para avançar
Um marco regulatório é o conjunto de leis e normas que garante segurança jurídica e define como determinada atividade deve ser conduzida.
No caso da cannabis, ele é essencial para organizar as pesquisas científicas, padronizar insumos, autorizar cultivos controlados e estabelecer protocolos claros para o desenvolvimento de medicamentos, produtos veterinários e aplicações industriais.
Atualmente, a ausência de regras específicas impõe obstáculos que atrasam o avanço da ciência no Brasil, como:
- Burocracia excessiva, com processos de autorização lentos e muitas vezes subjetivos;
- Dependência de insumos importados, que limita o acesso a materiais padronizados;
- Restrições ao cultivo científico e limites arbitrários de THC, inviabilizando comparações entre estudos;
- Barreiras no transporte de amostras entre instituições, reduzindo a cooperação nacional;
- Insegurança jurídica no uso de coprodutos, como fibras têxteis e bioinsumos agrícolas;
- Ausência de protocolos específicos para pesquisas veterinárias, que atrasam soluções voltadas a animais.
Segundo especialistas, superar esses obstáculos através de um marco regulatório sólido pode transformar o Brasil de um país dependente de tecnologias estrangeiras em uma referência internacional em pesquisas com cannabis.
Os quatro pilares do marco regulatório
Com base nas contribuições levantadas, o marco regulatório deve contemplar quatro eixos principais:
1. Simplificação da burocracia
- Reduzir a morosidade e a subjetividade nos processos de autorização;
- Unificar normas atualmente dispersas entre diferentes órgãos (Anvisa, MAPA, Polícia Federal etc.);
- Estabelecer protocolos transparentes e padronizados para solicitação e acompanhamento das pesquisas.
2. Garantia de acesso a insumos
- Autorizar o cultivo controlado de cannabis para fins científicos, em ambientes indoor e outdoor;
- Criar regras para a produção nacional de insumos padronizados, diminuindo a dependência de importações;
- Facilitar a circulação de amostras entre universidades e centros de pesquisa, promovendo maior integração.
3. Definição de parâmetros científicos claros
- Rever limites arbitrários de THC que hoje inviabilizam comparações entre estudos;
- Estabelecer protocolos específicos para pesquisas veterinárias, ainda pouco regulamentadas;
- Regulamentar o uso e estudo de coprodutos, como fibras têxteis, bioinsumos agrícolas e aplicações na construção civil.
4. Fomento à inovação e à cadeia produtiva
- Estimular parcerias entre universidades, indústria, agricultores e associações de pacientes;
- Criar condições para que o Brasil deixe de ser apenas importador e se torne exportador de conhecimento, tecnologia e produtos relacionados à cannabis;
- Apoiar iniciativas de agricultura familiar, especialmente no cultivo de cânhamo, fortalecendo a inclusão social e a geração de renda.
Essas mudanças têm o potencial de transformar o Brasil em um ambiente mais favorável à inovação, ao mesmo tempo em que impulsionam a ciência nacional, ampliam o acesso a terapias seguras e eficazes, abrem espaço para novos mercados — como o de produtos veterinários e industriais — e reduzem a dependência de tecnologias estrangeiras.
O futuro da pesquisa depende de regulação
O levantamento do Grupo de Trabalho (GT) identificou mais de 60 instituições científicas e tecnológicas já engajadas em pesquisas com a planta. As regiões Nordeste e Sudeste concentram estudos voltados ao uso medicinal e ao desenvolvimento farmacêutico, enquanto o Sul e o Centro-Oeste se destacam pela ênfase em aspectos agronômicos e biotecnológicos. Essa diversidade revela uma complementaridade estratégica e reforça o potencial para a criação de uma rede nacional de pesquisa colaborativa.
Entretanto, enquanto países como EUA, China e Canadá já registraram mais de mil patentes nos últimos cinco anos, o Brasil ainda discute normas básicas. A Nota Técnica do GT alerta que a ausência de regulação não apenas desestimula pesquisadores, como também amplia a dependência tecnológica em relação ao exterior.
Em síntese, o Brasil já possui capacidade científica e diversidade regional para se destacar no cenário internacional, mas sem um marco regulatório sólido corre o risco de perder protagonismo e permanecer dependente de tecnologias estrangeiras, desperdiçando um potencial estratégico para a ciência e a inovação.
Considerações finais
O marco regulatório proposto vai além da simples autorização de pesquisas: ele busca criar um verdadeiro ecossistema de inovação, capaz de conectar universidades, associações, agricultores e empresas, posicionando o Brasil como protagonista no cenário internacional da cannabis científica.
Mais do que uma medida jurídica, trata-se de uma oportunidade estratégica para o país, com potencial de fortalecer a soberania científica, impulsionar a inovação nacional e consolidar o Brasil como referência mundial em pesquisas com cannabis.

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