O que diz o estudo?
O estudo avaliou os efeitos do THC e do canabidiol (CBD), administrados por via oral, em ratos machos e fêmeas. O objetivo foi compreender como variáveis como sexo, dose e tempo de exposição influenciam a ativação da tétrade canabinoide — composta por quatro reações clássicas que indicam a ação dos canabinoides sobre o sistema nervoso central.
Principais descobertas do estudo
O estudo demonstrou que doses baixas de THC não ativam completamente a tétrade canabinoide, mas produzem efeitos terapêuticos sutis. A seguir, os principais achados:
- Doses baixas de THC provocaram respostas comportamentais discretas, como leve analgesia e alterações sutis na atividade motora, sem desencadear os quatro efeitos clássicos da tétrade.
- O CBD, mesmo em doses elevadas, não ativou a tétrade em nenhum momento, reforçando seu perfil de segurança e potencial terapêutico.
- Fatores como sexo biológico e tempo de exposição influenciaram os resultados, indicando que a resposta aos canabinoides pode variar de acordo com características individuais.
Esses resultados sustentam o princípio da microdosagem: é possível obter efeitos terapêuticos desejados mesmo com doses subterapêuticas de THC, evitando os efeitos colaterais mais intensos — como sedação, euforia ou prejuízo cognitivo — que são mais frequentes com doses elevadas.
O que é a tétrade dos canabinoides — e por que ela importa?
Em modelos animais, os pesquisadores costumam avaliar a eficácia de substâncias canabinoides com base em quatro reações conhecidas como tétrade canabinoide:
- Hipotermia – queda da temperatura corporal
- Catalepsia – rigidez muscular e imobilidade
- Analgesia – redução da sensibilidade à dor
- Redução da atividade locomotora – diminuição dos movimentos espontâneos
Esses efeitos refletem a ativação plena dos receptores canabinoides, especialmente CB1, e são comumente observados após administração de doses elevadas de THC.
No entanto, como demonstrado por Moore e Weerts, doses baixas podem modular o sistema endocanabinoide de forma mais seletiva, sem ativar todos os marcadores da tétrade.
Isso representa um avanço significativo para a individualização de tratamentos com cannabis, especialmente em contextos que exigem segurança, tolerabilidade e manutenção da funcionalidade diária.
O que os achados revelam para a prática terapêutica?
Os resultados do estudo reforçam a ideia de que a microdosagem pode ser uma abordagem segura e funcional para pacientes que buscam os benefícios da cannabis medicinal sem comprometer sua rotina com efeitos adversos como sonolência, alterações cognitivas ou motoras.
Em especial, a possibilidade de atuar seletivamente sobre o sistema endocanabinoide, induzindo respostas como leve analgesia ou modulação do humor, sem ativar a tétrade completa, abre caminho para aplicações em quadros como:
- Dores leves a moderadas
- Transtornos de ansiedade com sensibilidade a sedativos
- Síndromes clínicas que exigem uso contínuo e funcionalidade preservada
- Usuários iniciantes ou sensíveis ao THC
Além disso, o fato de o CBD não ativar a tétrade, mesmo em doses elevadas, reforça seu perfil de segurança farmacológica e amplia sua aplicabilidade em tratamentos de longo prazo — inclusive para condições inflamatórias, neurológicas e psiquiátricas, especialmente quando combinado a microdoses de THC.
Considerações finais
O estudo de Moore e Weerts (2022) representa um marco relevante para o entendimento dos efeitos seletivos do THC em baixas doses, validando o conceito terapêutico da microdosagem.
Ao demonstrar que é possível modular o sistema endocanabinoide sem ativar os efeitos clássicos da tétrade, a pesquisa sustenta o uso de doses subterapêuticas como caminho viável, com foco em segurança, tolerabilidade e personalização do cuidado.
Essas evidências fortalecem o posicionamento da microdosagem como uma fronteira promissora da medicina canabinoide, especialmente para pessoas que desejam integrar a cannabis à sua rotina de forma equilibrada, funcional e com risco reduzido de efeitos colaterais.
Ainda que mais estudos clínicos em humanos sejam necessários para padronizar protocolos, o cenário já aponta um caminho fundamentado: menos pode, sim, ser mais — quando bem orientado.



Agende sua consulta
Agende sua primeira consulta na Click por apenas R$30 e converse com nossos médicos especialistas hoje mesmo.