- A Síndrome de Dravet é uma forma grave de epilepsia infantil, causada por mutação no gene SCN1A, com crises convulsivas frequentes e refratárias, afetando o desenvolvimento e a rotina familiar.
- O canabidiol modula a atividade elétrica cerebral, reduzindo crises epilépticas com segurança, sem efeitos psicoativos, e melhorando aspectos como sono e comportamento.
- Estudos mostram redução significativa nas convulsões com o uso de CBD purificado (como o Epidiolex®), mas é essencial acompanhamento médico e controle de qualidade dos produtos.
- A estabilização clínica proporcionada pelo CBD melhora o bem-estar da criança e dos cuidadores, permitindo retomada de rotinas, redução do estresse e melhor qualidade de vida.
O que é a Síndrome de Dravet?
A Síndrome de Dravet é causada, na maioria dos casos, por uma mutação genética no gene SCN1A, responsável por regular canais de sódio no cérebro.
Essa alteração compromete a atividade elétrica normal dos neurônios, gerando crises convulsivas severas e frequentes, muitas vezes acompanhadas de febre.
Além das convulsões, a doença pode causar atrasos no desenvolvimento cognitivo, distúrbios do sono, dificuldades motoras e problemas de comportamento.
O tratamento convencional geralmente envolve uma combinação de anticonvulsivantes, mas muitos casos são refratários, ou seja, não respondem adequadamente aos fármacos disponíveis.
Como o CBD age no cérebro e controla as convulsões?
Sua principal atuação se dá na modulação da excitabilidade neuronal, ajudando a estabilizar a atividade elétrica do cérebro. O CBD atua em diferentes alvos moleculares, como:
- Receptores do sistema endocanabinoide, que regulam funções neurológicas importantes como dor, sono e controle das convulsões;
- Canais de sódio e cálcio, afetando diretamente a forma como os neurônios transmitem sinais;
- Receptores de adenosina e TRPV1, envolvidos na redução da inflamação e da excitação neuronal excessiva;
- Inibição da liberação excessiva de glutamato, um neurotransmissor excitatório ligado ao surgimento das crises.
Ao atuar nesses diversos mecanismos, o CBD contribui para a redução da frequência, duração e intensidade das convulsões, ao mesmo tempo em que exerce efeitos ansiolíticos e neuroprotetores.
Por não apresentar os efeitos psicoativos do tetraidrocanabinol (THC), mostra-se uma opção mais segura para uso pediátrico — desde que administrado com acompanhamento médico e conforme as diretrizes da Anvisa.
Evidências científicas do uso de CBD na Síndrome de Dravet
Nos últimos anos, ensaios clínicos randomizados e controlados têm demonstrado a eficácia do canabidiol (CBD) como terapia adjuvante no tratamento da Síndrome de Dravet, especialmente em casos refratários aos anticonvulsivantes convencionais.
Um dos estudos mais relevantes foi publicado em 2017 no New England Journal of Medicine. Trata-se de uma pesquisa multicêntrica, duplo-cega e controlada por placebo, que avaliou os efeitos do Epidiolex® — uma formulação oral de CBD altamente purificada.
O estudo incluiu 120 crianças e adolescentes com diagnóstico confirmado de Síndrome de Dravet. Os resultados foram expressivos:
- O grupo tratado com CBD apresentou uma redução média de 39% na frequência das crises convulsivas, especialmente das crises tônico-clônicas generalizadas, em comparação a 13% no grupo placebo;
- Alguns participantes tiveram reduções superiores a 70% no número de crises, e casos de remissão parcial também foram observados;
- Além da melhora clínica, os cuidadores relataram avanços em aspectos secundários, como: qualidade do sono, níveis de alerta e interação social e controle de comportamentos disruptivos.
Diante desses resultados, o Epidiolex foi aprovado pela FDA (EUA) em 2018, tornando-se o primeiro medicamento à base de CBD autorizado para o tratamento de epilepsias graves.
No Brasil, seu uso foi posteriormente regulamentado pela Anvisa, estando disponível mediante prescrição médica e registro sanitário específico.
Principais aplicações do CBD na infância
O uso do canabidiol em crianças tem se concentrado, principalmente, em situações clínicas específicas, nas quais os tratamentos convencionais não apresentam bons resultados ou causam muitos efeitos colaterais. As principais indicações terapêuticas incluem:
- Epilepsias refratárias, como a síndrome de Dravet e a síndrome de Lennox-Gastaut, nas quais o CBD tem demonstrado potencial na redução da frequência e intensidade das crises convulsivas;
- Transtornos do espectro autista (TEA), com estudos preliminares apontando melhora em comportamentos agressivos, agitação e dificuldades de comunicação;
- Transtornos de ansiedade e distúrbios do sono, em que o CBD pode ajudar a reduzir a inquietação, facilitar o sono e promover maior estabilidade emocional.
Embora o canabidiol (CBD) seja, em geral, bem tolerado — especialmente quando comparado ao tetraidrocanabinol (THC) —, seu uso em populações vulneráveis, como crianças em fase de desenvolvimento, exige cautela e acompanhamento médico contínuo.
Segurança do CBD: Efeitos Adversos Mais Comuns na Infância
Apesar dos benefícios observados no tratamento de epilepsias refratárias, como a Síndrome de Dravet, é fundamental considerar os possíveis efeitos adversos, bem como as limitações das evidências disponíveis, especialmente em relação ao uso prolongado.
Efeitos adversos mais comuns
Estudos clínicos com crianças indicam que os efeitos colaterais mais frequentemente associados ao uso de CBD incluem:
- Sonolência e fadiga
- Diarreia
- Diminuição do apetite
- Perda de peso
- Alterações no sono
Esses efeitos costumam ser dose-dependentes e, na maioria dos casos, são reversíveis com o ajuste da posologia ou mediante acompanhamento clínico adequado.
Interações medicamentosas
O canabidiol (CBD) pode interferir no metabolismo de diversos medicamentos ao inibir enzimas do sistema citocromo P450, que desempenham um papel essencial na metabolização hepática de fármacos. Essa interação pode alterar os níveis sanguíneos de outras substâncias, potencializando ou reduzindo seus efeitos terapêuticos e colaterais.
No caso específico da associação do CBD com anticonvulsivantes, é imprescindível tomar alguns cuidados:
- Ajustar as doses com base na resposta clínica individual e nos resultados de exames laboratoriais;
- Monitorar sinais de alerta, como sonolência excessiva, letargia ou alterações de comportamento;
- Realizar acompanhamento médico periódico, sempre com orientação especializada e supervisão contínua.
Esses cuidados são fundamentais para garantir a eficácia do tratamento e minimizar riscos, sobretudo em crianças com epilepsias refratárias, como a Síndrome de Dravet.
Qualidade e segurança dos produtos
Um aspecto crucial para o uso seguro do canabidiol (CBD), especialmente em crianças, diz respeito à qualidade e procedência dos produtos disponíveis no mercado. Com o aumento da demanda, muitas formulações artesanais ou sem controle sanitário adequado passaram a circular, o que representa um risco significativo para a saúde.
Produtos irregulares podem conter:
- Teores de THC acima do permitido por lei;
- Contaminantes como solventes residuais, pesticidas, fungos ou metais pesados;
- Variações na concentração de CBD em relação ao que é declarado no rótulo.
A exposição acidental ao THC — particularmente em crianças — pode causar efeitos adversos como sedação excessiva, alterações de comportamento, vômitos, ataxia (falta de coordenação motora) e, em casos mais graves, intoxicação aguda com necessidade de internação.
Diante disso, é fundamental garantir que:
- O CBD seja sempre prescrito por profissionais habilitados, com CRM ativo;
- O produto seja adquirido legalmente, com registro na Anvisa ou por meio de autorização excepcional de importação;
- Exista garantia de qualidade laboratorial, com laudos que atestem a pureza, a concentração dos canabinoides e a ausência de contaminantes.
Somente com esses cuidados é possível assegurar um tratamento eficaz e seguro, especialmente em crianças com condições clínicas sensíveis, como a Síndrome de Dravet.
Impacto do CBD na rotina familiar e nos cuidadores
Relatos de famílias que utilizam o CBD no tratamento da Síndrome de Dravet revelam transformações significativas na rotina doméstica.
Crianças que antes sofriam dezenas de convulsões por semana passam a apresentar um quadro mais estável, com crises mais espaçadas ou até ausentes por longos períodos.
Essa melhora clínica repercute no desenvolvimento cognitivo e social da criança, favorecendo avanços em áreas como atenção, linguagem e interação.
Além disso, a maior previsibilidade do quadro clínico permite que os cuidadores reorganizem a rotina com menos urgências, desfrutem de períodos mais regulares de descanso e retomem, quando possível, atividades sociais ou profissionais.
O fardo invisível do cuidado
A Síndrome de Dravet impõe uma carga intensa e contínua às famílias. Estudos qualitativos indicam que os cuidadores principais — geralmente as mães — relatam níveis elevados de ansiedade, exaustão, isolamento social e sintomas depressivos, frequentemente agravados pela falta de apoio institucional e de redes de suporte.
O impacto econômico também é significativo: despesas com medicamentos, consultas, exames, internações e adaptações da rotina podem comprometer o orçamento familiar, levando, em muitos casos, um dos responsáveis a abandonar o trabalho para se dedicar integralmente ao cuidado da criança.
CBD como um alívio não apenas médico, mas humano
O uso do canabidiol (CBD) tem se mostrado promissor não só no controle das convulsões, mas também como um fator de reorganização da vida familiar. A maior previsibilidade do quadro clínico proporciona aos cuidadores:
- Períodos mais regulares de descanso e sono;
- Possibilidade de retomar atividades sociais ou profissionais;
- Rotinas menos caóticas, com menos urgências e deslocamentos inesperados;
- Reaproximação afetiva com outros membros da família, incluindo irmãos da criança.
Com isso, o ambiente doméstico se torna menos tenso e mais propício ao desenvolvimento emocional da criança e ao bem-estar psicológico dos cuidadores.
A importância do apoio contínuo
Mesmo com os avanços promovidos pelo CBD, é fundamental que os cuidadores tenham acesso a uma rede multidisciplinar de suporte, composta por:
- Equipe médica especializada;
- Psicólogos, terapeutas ocupacionais e educadores;
- Grupos de apoio entre famílias que convivem com a mesma condição;
- Orientação jurídica e social, especialmente para garantir acesso regular aos medicamentos.
Reconhecer a carga invisível que recai sobre os cuidadores é parte essencial no tratamento da Síndrome de Dravet. Toda conquista clínica, como a proporcionada pelo CBD, deve vir acompanhada de apoio emocional, social e institucional às famílias que enfrentam diariamente os desafios da epilepsia refratária.
Considerações finais
O canabidiol tem transformado a realidade de muitas crianças com Síndrome de Dravet, surgindo como uma alternativa eficaz especialmente quando os tratamentos convencionais não oferecem resultados satisfatórios.
Ainda que a pesquisa sobre seus efeitos a longo prazo continue em expansão, os avanços científicos e os relatos clínicos já demonstram o potencial do CBD como uma ferramenta valiosa no controle das crises epilépticas e na melhoria da qualidade de vida das famílias.
Com o acompanhamento médico adequado e o uso de produtos seguros e regulamentados, o CBD pode não apenas inaugurar um novo capítulo no tratamento da epilepsia refratária — mas também renovar a esperança de milhares de famílias que convivem com essa condição desafiadora todos os dias.

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