- A polifarmácia é comum entre idosos e aumenta o risco de efeitos adversos, interações medicamentosas e dificuldades na adesão ao tratamento.
- Os efeitos da polifarmácia incluem quedas, confusão mental, agravamento de doenças e surgimento de novos problemas.
- A cannabis medicinal pode tratar vários sintomas com um só produto, reduzindo a necessidade de múltiplos remédios.
- Canabinoides como CBD e THC têm ação analgésica, ansiolítica, anticonvulsivante e melhoram o sono.
- O uso de cannabis pode diminuir a dependência de opioides, ansiolíticos, antidepressivos, indutores do sono e anticonvulsivantes.
O que é polifarmácia?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a polifarmácia — ou polimedicação — é caracterizada pelo uso regular e simultâneo de quatro ou mais medicamentos por um mesmo paciente, com ou sem prescrição médica.
Embora esse número seja um parâmetro importante, ele não é o único fator a ser considerado. A polifarmácia abrange tanto os medicamentos prescritos quanto aqueles usados por conta própria (automedicação) ou de forma eventual.
O maior risco está na sobreposição de tratamentos, que, sem o devido acompanhamento, pode comprometer a eficácia das terapias e colocar a segurança do paciente em risco.
Vulnerabilidade da população idosa
Pessoas com mais de 60 anos estão entre as que mais consomem medicamentos, tornando-se também as mais vulneráveis a reações adversas e interações medicamentosas. Isso se deve, em grande parte, à presença de múltiplas condições crônicas (MCC), comuns nessa fase da vida.
Adultos a partir dos 65 anos, por exemplo, costumam utilizar diversos fármacos simultaneamente para tratar doenças coexistentes, o que aumenta consideravelmente o risco de efeitos indesejados. Soma-se a isso a fragilidade própria do envelhecimento.
Embora os medicamentos sejam essenciais para o controle das doenças e para a qualidade de vida, seu uso precisa ser orientado por uma avaliação criteriosa da relação entre riscos e benefícios.
Desafios clínicos da polifarmácia
Gerenciar múltiplos medicamentos pode ser financeiramente oneroso e logisticamente desafiador — especialmente para pessoas com mobilidade reduzida ou que residem em áreas rurais.
Além disso, o uso concomitante de vários fármacos aumenta significativamente o risco de reações adversas (efeitos colaterais provocados por medicamentos) e de interações medicamentosas, nas quais dois ou mais remédios podem interagir negativamente, comprometendo a eficácia do tratamento ou provocando novos problemas.
A chamada polifarmácia inadequada — caracterizada pelo uso excessivo ou desnecessário de medicamentos — está associada a efeitos adversos relevantes, como:
- quedas;
- comprometimento cognitivo;
- agravamento de doenças preexistentes;
- surgimento de novas condições em decorrência de interações entre medicamentos ou entre medicamentos e doenças.
Além dos riscos clínicos, há um impacto significativo na rotina dos pacientes e de seus cuidadores. Com prescrições muitas vezes feitas por diferentes profissionais de saúde, é comum a sobreposição ou duplicação de tratamentos. Isso impõe desafios adicionais, como:
- compreender a finalidade de cada medicação;
- garantir a obtenção contínua dos remédios;
- manter a adesão aos horários corretos;
- identificar e relatar possíveis efeitos colaterais.
Esses problemas não apenas comprometem a segurança do paciente, mas também geram custos consideráveis para as famílias e para o sistema de saúde como um todo.
Condições crônicas que impulsionam a polifarmácia
Abaixo, listam-se enfermidades que ilustram como a polifarmácia se manifesta na prática clínica cotidiana.
Diabetes
Em um estudo realizado no Brasil com 40 pessoas idosas diagnosticadas com diabetes, 75% faziam uso diário de 5 a 8 medicamentos, enquanto os 25% restantes utilizavam 8 ou mais medicamentos por dia.
Esse dado revela uma alta prevalência de polifarmácia nessa população, frequentemente acometida por comorbidades que exigem acompanhamento farmacológico contínuo.
Hipertensão
Outro estudo, com 189 idosos de uma comunidade brasileira, mostrou que, embora a maioria estivesse em uso de medicamentos anti-hipertensivos, 38% apresentavam polifarmácia, evidenciando a sobreposição de tratamentos para diferentes condições crônicas.
Depressão e Saúde Mental
A prevalência de depressão em idosos tem aumentado, em parte devido às mudanças biológicas e sociais relacionadas ao envelhecimento.
Em uma pesquisa realizada em Brasília com 226 pessoas idosas, verificou-se que 18,71% dos indivíduos diagnosticados com depressão estavam em uso de polifarmácia.
Outro estudo nacional, com 496 idosos, indicou que 22% dos pacientes polimedicados também possuíam diagnóstico de depressão, evidenciando uma associação entre essas duas condições.
Esses dados reforçam a relação direta entre transtornos mentais em idosos e o aumento do consumo de medicamentos.
Doenças Reumatológicas
Na reumatologia, a polifarmácia está frequentemente relacionada à atividade inflamatória elevada da doença, o que demanda um regime terapêutico mais intenso.
O uso contínuo de múltiplos fármacos tem como objetivo promover maior adesão ao tratamento, controle dos sintomas e melhora do quadro clínico.
Insuficiência Renal Crônica
Em pacientes com insuficiência renal crônica, a polifarmácia está frequentemente relacionada à presença de outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como hipertensão e diabetes. O envelhecimento, somado às alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas típicas dessa faixa etária, contribui para a complexidade do tratamento.
A função renal comprometida exige ajustes constantes na dosagem e a introdução de novos medicamentos, o que aumenta ainda mais o número de fármacos utilizados para atingir os objetivos terapêuticos com segurança.
Estudos apontam que as DCNT estão entre as principais causas da polifarmácia em idosos. A maioria dos medicamentos consumidos por pessoas com mais de 60 anos é destinada ao controle dessas condições crônicas. Assim, quanto maior o número de diagnósticos, maior tende a ser a quantidade de medicamentos prescritos, ampliando os desafios clínicos e os riscos associados.
Como a Cannabis pode reduzir o uso de medicamentos
A cannabis medicinal tem ganhado destaque como uma alternativa terapêutica eficaz no manejo de diversas condições crônicas, como dor persistente, ansiedade, insônia, epilepsia e doenças inflamatórias.
Seu principal diferencial está na ação multifuncional dos canabinoides, especialmente o CBD e o THC, que possibilitam o tratamento de múltiplos sintomas com um único composto, desde que utilizados de forma adequada e segura.
Além disso, os diferentes componentes químicos da planta atuam em sinergia, potencializando os efeitos terapêuticos e minimizando os efeitos adversos — fenômeno conhecido como Efeito Entourage (ou efeito comitiva).
Essa interação entre canabinoides, terpenos e flavonoides amplifica os benefícios clínicos da cannabis em sua forma integral, quando comparada ao uso de compostos isolados.
Esse potencial de ação ampla pode contribuir significativamente para a redução do número de medicamentos utilizados por um mesmo paciente, especialmente em casos de polifarmácia.
Com isso, o tratamento se torna mais simples, com menor risco de interações medicamentosas e melhor qualidade de vida para o paciente.
Classes de fármacos que podem ser reduzidas com o uso de cannabis medicinal
1. Analgésicos Opioides
THC e CBD atuam nos receptores do sistema endocanabinoide envolvidos na modulação da dor e da inflamação, proporcionando alívio com menor risco de efeitos adversos graves, como sedação excessiva, dependência e depressão respiratória — comuns no uso prolongado de opioides.
2. Ansiolíticos e Antidepressivos
O CBD apresenta efeitos ansiolíticos e antidepressivos comprovados em diversos estudos, auxiliando na redução de sintomas como ansiedade, insônia, tensão e humor deprimido.
Com isso, é possível reduzir — ou até suspender gradualmente — o uso de benzodiazepínicos e antidepressivos, especialmente em pacientes com baixa tolerância aos seus efeitos colaterais.
3. Medicamentos para Insônia
Tanto o CBD quanto o THC têm demonstrado eficácia na melhoria do sono, promovendo relaxamento, facilitando o início do sono e prolongando suas fases mais profundas.
Essa ação contribui para a redução do uso de indutores do sono tradicionais, com menor risco de dependência, sonolência diurna e prejuízos cognitivos.
4. Anticonvulsivantes
O CBD possui eficácia reconhecida no tratamento de epilepsias refratárias, como a Síndrome de Dravet e a Síndrome de Lennox-Gastaut.
A melhora no controle das crises permite a redução progressiva das doses de anticonvulsivantes convencionais, que muitas vezes provocam efeitos indesejados como sedação, irritabilidade e alterações motoras. Um exemplo é o Epidiolex, medicamento à base de CBD aprovado nos EUA e na Europa, utilizado inclusive em crianças.
Desprescrição segura: papel do médico e uso responsável da cannabis
A redução ou substituição de medicamentos — processo conhecido como desprescrição — deve ser sempre conduzida com acompanhamento profissional. Trata-se de uma prática clínica deliberada, realizada por médicos e outros profissionais de saúde habilitados, que visa descontinuar fármacos desnecessários, ineficazes ou potencialmente prejudiciais, de forma segura e gradual.
No contexto da cannabis medicinal, essa abordagem ganha ainda mais relevância. Embora estudos apontem seu potencial para reduzir o uso de opioides, ansiolíticos, antidepressivos, indutores do sono e anticonvulsivantes, a substituição desses fármacos não deve ocorrer de forma abrupta ou sem supervisão.
A cannabis, quando utilizada com fins terapêuticos, exige prescrição médica individualizada, baseada no quadro clínico do paciente, nas interações medicamentosas e na resposta aos tratamentos anteriores.
Além disso, a escolha do tipo de produto (CBD isolado, full spectrum, proporção entre CBD e THC, forma de administração) deve considerar as necessidades específicas de cada caso.
Portanto, a desprescrição medicamentosa mediada pelo uso de cannabis não é um processo automático, mas uma conduta clínica complexa que demanda avaliação criteriosa, acompanhamento contínuo e integração entre os profissionais de saúde envolvidos no cuidado.
Considerações finais
A polifarmácia, especialmente entre pacientes crônicos e idosos, eleva significativamente os riscos clínicos e os custos do tratamento.
Nesse contexto, a cannabis medicinal — com propriedades analgésicas, ansiolíticas, indutoras do sono e anticonvulsivantes — tem se mostrado uma alternativa eficaz para reduzir ou substituir diversas classes de medicamentos, desde que utilizada com acompanhamento médico.
Para garantir segurança, é fundamental uma abordagem individualizada, com monitoramento contínuo e atuação integrada entre os profissionais de saúde.

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